Modelagem Criativa: A Construção de novas estruturas



E, no entanto, não terá a roupa tão denegrida sua beleza e seu encanto nativos? Não será ela indispensável a nossa época, que sofre e carrega até em seus ombros negros e magros o símbolo de um perpétuo luto? Note-se bem que a casca e a sobrecasaca não têm apensa uma beleza política, expressão da igualdade universal, mas também uma beleza poética, que é a expressão da alma pública um imenso cortejo de papa-defuntos, papa-defuntos políticos, papa-defuntos apaixonados, papa-defuntos burgueses. Todos nos celebramos algum tipo de enterro. (BAUDELEIRE, p.25)


Dentro dos processos de construção de um produto de moda existem vários setores, dentre esses a modelagem é a técnica que desenvolve os moldes das peças, por meio da interpretação de um croqui, modelo, figurino em forma bidimensional ou tridimensional.

Conforme Patrícia Mello Souza, esse profissional é o responsável pela mediação entre a criação e a produção das peças. As técnicas de modelagem utilizadas no setor do vestuário atualmente são: modelagem plana industrial, modelagem gráfica e tridimensional.

Entre as preocupações estéticas o modelista está atento também as necessidades ergonômicas na concepção das roupas. De acordo com Grave, em A modelagem sob a ótica da ergonomia, essa responde atendendo a necessidade física e anatômica atingindo a qualidade ideal no vestir, respeitando o conforto e a funcionalidade.

A moulage ou draping, técnica de modelagem em três dimensões que permite desenvolver a forma diretamente sobre o corpo de um manequim, possibilitando vislumbrar modelos mais complexos, capazes de construir formas distintas ao corpo humano. A moulage induz e possibilita a inovação formal: o estudo da forma é continuamente desenvolvido pela ação escultórica sobre o suporte, que propicia não só a percepção do material têxtil como perfectiva de construção, mas também a apropriação dos elementos da linguagem tridimensional para configurar o espaço contido pelo corpo. (SOUZA, p. 342)Ainda conforme Souza, a moulage constitui-se numa tomada de partido sobre o corpo, podendo estabelecer vários discursos que transitam entre a aceitação, que molda as formas reais, e a negação que configuram novos corpos.

Na moda presente nas passarelas podemos perceber a configuração de formas de “negação”, um exemplo é conforme a Revista Vogue, de julho de 2008, nos desfiles de moda de Milão e Paris para inverno 2008-2009 Nicolas Ghesquiere para Balanciaga, Stefano Pilati para Yves St. Laurent e Raf simons para Jil Sander foram além das técnicas conhecidas por meio da moulage para mostrar uma arquitetura na roupa inovadora, ganhando formas mais dramáticas e estruturais.

As técnicas de construção de um corpo com formas e interferências díspares as linhas da forma humana, estão presente também na moda nacional. Nas coleções brasileiras outono-inverno 2009, Reinaldo Lourenço, Andre Lima, Cori e Iódice foram algumas marcas que desenharam riscos precisos, apostando em dobraduras ou efeitos tridimensionais, dando movimento e imponência à roupa. Segundo Lourenço, sobre o exercício de estilo no texto de apresentação de sua coleção, batizada Metrópole, no São Paulo Fashion Week, transcrito na revista L’Officiel Brasil, número 30 de 200, “é uma nova elegância, a base de simetrias e formas geométricas”.

A exposição Skin+Bones, que ocorreu em Londres em agosto de 2008, trouxe relação entre moda e arquitetura na interferência nas formas cotidiana. Skin+Bones traz vários exemplos das duas artes em justaposição explicitando assim suas semelhanças. A superfície prata e ondulada do prédio de Selfridges em Birmingham, por exemplo, projeto do escritório Future Systems, foi inspirado nas lantejoulas de Paco Rabanne. Já o vestido de Afterwords, do cipriota Hussein Chalayan, reproduz as linhas das pecas de mobiliário. (VOGUE, 2008 p.122)A amostra buscava demonstrar que o principal propósito de prédios e de roupas ultrapassa a função de abrigo, trazendo fruição, o que a revista Vogue Brasil definiu como “the wow factor”.


Trabalho apresentado a Universidade Estadual de Londrina como requisito integral para avaliação da disciplina de Modelagem e processo criativo, pós-graduação em Moda: Comunicação e Produto, pelas academicas: Bruna Vilas-boas e Flavia Bortolon

Referencias:

BAUDELEIRE, Charles. A modernidade de Baudelaire. apresentação de Teixeira Coelho; tradução, Suely Cassal. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

GRAVE, Maria de Fátima. A Modelagem sob a ótica da ergonomia. São Paulo: Zennex Publishing, 2004

SALTZMAN, Andrea. O design vivo. In: PIRES, Dorotéia Baduy (Org.). Design de Moda: olhares diversos. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2008. p.305-318

SOUZA, Patrícia Mello. A moulage, a inovação formal e a nova arquitetura do corpo. In: PIRES, Dorotéia Baduy (Org.). Design de Moda: olhares diversos. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2008.p. 337-345

SOUZA, Patrícia de Mello. A modelagem tridimensional como implemento do processo do desenvolvimento do produto de moda. 2006. Dissertação (Mestrado em Desenho Industrial) – Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Universidade Estadual Paulista, Bauru, 2006.Desenho e articulações acesso no site: http://fido.palermo.edu/servicios_dyc/encuentro2007/02_auspicios_publicaciones/actas_diseno/articulos_pdf/A131.pdf acesso em 26 de novembro de 2009.

LOPES, Ana Claudia. De mãos dadas. Vogue Brasil. São Paulo, n. 360, p 122, agosto de 2008.

ANDERSON, Joni. Mistura Fina. L’Officiel Brasil. São Paulo, n. 30, p.28-33, abril de 2009

PASCOLATO, Costanza. Sóbrio e sexy. Vogue Brasil. São Paulo, n. 359, p.81-85, julho de 2008

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