Fotografia de moda e a morte
O
fotografo francês Guy Bourdin foi um dos primeiros artistas a
explorarem nas imagens de campanhas de moda as denominadas
“pseudothriller”, que traziam atmosfera de filmes de violência,
“o que importa é provocar quem olha, é chocá-lo com alusões
sexuais particulares e doses calibradas de violência e sangue.
(MARRA, p.165)”. O fotografo trabalhou na vogue francesa fazendo
editoriais de moda de 1955 a 1987, para grifes como
Chanel, Issey
Miyake, Versace e para a loja de departamentos Bloomingdale's. Os
trabalhos de Bourdin mais
tarde inspiraram artistas como David LaChapelle, David
Lynch
e Nick
Knight
Figura
1- Guy Bourdin
Bourdin
pertencia a escola conceitualista, que baseada a produção artística
na “narrative art”, a técnica da imagem suspensa, do fotograma
isolado, como se a imagem mostrasse somente uma cena do que estava
para ocorrer em um filme maior, deixando o fato em suspenso. Na
imagem
produzida pra a campanha da marca NARS (figura 1) a cena sugere uma
mulher nua morta, com sangue saindo de sua boca, as cores são fortes
e o sangue tem aspecto de esmalte de unhas.
Na
fotografia da campanha de moda a mulher esta morta, um “cadáver
colorido” de Benjamim, representado literalmente pelo corpo, em
busca da novidade, da cor que será a tendência da estação,
substituindo a que é passado, entrelaçando novamente a moda e a
morte pela relação de caducidade de ambas. O corpo está nu,
Os
anos 1980 a moda contou com campanhas ilustradas pelas supermodelos,
como Cindy Crawfor, Linda Evangelista e a brasileira Cláudia
Schiffer, com seus corpos saudáveis em um ambiente de cores e luxo
vestidas pelos estilistas mais requisitados no mainstream.
Mas na década seguinte, anos 90, as campanhas se aproximaram do lado
obscuro da indústria “glamorosa” da moda, optou-se pela
transgressão e a decadência, a violência e o uso de drogas, as
modelos agora tinham o aspecto chamado heroin
chic1,
corpos magros, aparência cansada, destacando Kate Moss.
O
que permite supor que ao criar histórias mórbidas para suas belas
mulheres nos anos 1990 a moda mais uma vez valeu-se de seu carácter
irônico para abordar, mesmo que de maneira surrealista, um de seus
pilares, em uma espécie momento
mori
do fashion. Da passarela à campanha publicitária, as modelos
protagonizavam cenas em que foram viúvas, fantasmas ou sofreram
mortes trágicas. É importante lembrar que novo, neste cotexto, diz
respeito ao passado recente da imagem de moda e não ao contexto
social no qual a moda se insere. (HOLZMEISTER, 2010, p.100)
HOLZMEISTER,Silvana. O
estranho na Moda: imagem nos anos 1990.
São Paulo: Estação letras e cores, 2010.
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