O valor subjetivo do objeto: Moda pela Escola Austríaca

A Escola Áustríaca dentre as outras correntes historiográficas, aponta para que as ações humanas, subjetivas e baseadas no conhecimento empírico do sujeito movem a construção das instituições e normas sociais, entre elas o mercado. Um dos principais fundamentos da Escola de Economia Austríaca está assentada em que o valor subjetivo de um determinado objeto dirige seu valor no mercado, opondo-se aos teóricos que apontavam para o preço apontar para as escolhas do sujeito.
A origem dessa escola de pensamento remete ao século XVI, com estudos de religiosos católicos espanhóis. Juan de Mariana, padre jesuíta defendeu em seu livro “sobre o rei e a instituição real” 1598, a tese de que qualquer servo poderia matar seu governante, caso esse não obedecesse leis, expropriasse terras ou tirasse o direito do outro de forma tirânica. Posteriormente, Juan de Mariana questiona o valor empregado à moeda, seguindo a Doutrina Tradicional Eclesiástica em que o valor subjetivo que está posto nos objetos. Marina segue o pensamento de Diego de Covarrubias y Leyva, Arcebispo de Segovia, que no ano de 1554 apresentou uma teoria subjetiva do valor na economia de mercado livre, declarando que esse valor seria incalculavel.
Nos séculos seguintes o pensamento Eclesiastico Espanhol adquire complementações e alterações com economistas franceses, sendo os mais renomados: Balesbat, Jacques Turgot e o Marquês D'Argenson. Turgot, em sua elegia à Gournay (1759) escreve que não haveria necessidade de provar que cada sujeito é o único que pode fazer suas escolhas, sabendo por meio do conhecimento adquirido em erros e acertos anteriores o que produzir ou consumir, sem assim, a necessidade de intervenção exterior. No século XVIII o pensamento liberal é norteado por Adam Smith, que baseia seu estudo da explicacao do “preço natural” e na não intervenção no sistema economico, para que assim, esse pudesse se auto-equilibrar.
A Escola Austrica é norteada no século XX inicialmente pelas ideias de Carl Menger e, posteriormente pelas concepções de Economia Politica Clássica desenvolvidas por Mises e Friedrich Hayek. Para esses pensadores o homem é guiado para realizar suas necessidades, pelo seu egoísmo, assim somente esse sabe profundamente quais podem ser seus fins, implicando na imposibilidade de uma entidade que possa controlar a todos sem cometer atos de autoritarismo.

O valor subjetivo do Objeto: Mises e Hayek

Hayek defende em seu livro “Legislação e Liberdade: uma nova formulação dos princípios de justiça e economia política”, que o conceito de bem estar comum gerido por uma Instituição ou Estado não pode garantir o desejo de cada individuo, por não conhece-lo, unicamente pode defender que os direitos básicos atinjam as classes menos favorecidas. Assim, a felicidade de todos não pode ser aferida pelo desejo e compreensão de um sujeito, pois essa depende de inúmeras variáveis.
O motivo gerador da ação do sujeito é o Egoísmo. O individualismo, a vontade de satisfazer um desejo. O egoísmo de Hayek não levaria o homem a tomar atitudes mesquinhas somente, ate mesmo ações filantropicas, segundo o autor, ocorrem atraves da vontade do sujeito em ajudar os demais.

Este é o fato fundamental em que se baseia toda a filosofia do individualismo. Ela não parte do pressuposto de que o homem seja egoísta ou deva sê-lo, como muitas vezes se afirma. Parte apenas do fato incontestável de que os limites dos nossos poderes de imaginação nos impedem de incluir em nossa escala de valores mais que uma parcela das necessidades da sociedade inteira; e como, em sentido estrito, tal escala só pode existir na mente de cada um, segue-se que só existem escalas parciais de valores, as quais são inevitavelmente distintas entre si e mesmo conflitantes. Daí concluem os individualistas que se deve permitir ao indivíduo, dentro de certos limites, seguir seus próprios valores e preferências em vez dos de outrem; e que, nesse contexto, o sistema de objetivos do indivíduo deve ser soberano, não estando sujeito aos ditames alheios. É esse reconhecimento do indivíduo como juiz supremo dos próprios objetivos, é a convicção de que suas ideias deveriam governar-lhe tanto quanto possível a conduta que constitui a essência da visão individualista. (Hayek,1990, p.84)


Para Ludiwig Von Mises, esse individualismo representa que toda ação humana tem como objetivo final atingir o desejo próprio. Como cada um possui interesses finais diferentes, as trocas também possuem valores diferentes para cada sujeito.
A medida para o valor de um objeto em sua troca ou aquisição depende, então, de um valor abstrato e não monetário, relacionado com a realização de um desejo para um determinado fim. Neste contexto, utilidade significa simplesmente: relação causal para a redução de algum desconforto. Para Mises em seu livro “Ação Humana” o uso de construções imaginárias, às quais nada corresponde no mundo real, é uma ferramenta indispensável do pensamento. Nenhum outro método contribuiria para uma melhor compreensão da realidade.
O valor de um objeto no mercado não pode ser controlado por leis e instituições, pois essas seriam arbitrarias, porque tirariam do objeto o valor natural dado na relação entre necessidades do sujeito. Mises caracteriza essa valorização como artificial e inútil.
As pessoas compram e vendem unicamente porque atribuem um maior valor àquilo que recebem do que àquilo que cedem. Assim sendo, a noção de uma medição de valor é inútil. Um ato de troca não é precedido nem acompanhado por qualquer processo que possa ser considerado como uma medição de valor. Um indivíduo pode atribuir o mesmo valor a duas coisas; neste caso, nenhuma troca ocorrerá. Mas se há uma diferença de valor, tudo o que se pode afirmar é que a tem mais valor do que b. Valores e valorações são quantidades intensivas e não extensivas. Não são susceptíveis de serem compreendidos pela aplicação de números cardinais. (MISES, 1990, p.286)

As trocas ocorrendo sem intervenção de algum órgão superior propiciariam além de cada indivíduo ter sua necessidade realizada o estímulo ao conhecimento empírico promovendo a criatividade e a melhor resolução de problemas. Em sociedades com regimes reguladores da economia, como socialismo ou outras formas tirânicas de governo, não ocorre a liberdade de escolha e produção, portanto o indivíduo é suprimido a necessidades dos outros.

O valor subjetivo do objeto: Consumo de Moda e Luxo

Os indivíduos, como já dito, agem para satisfazer suas necessidades que são variáveis, de cunho fisiologico, emocional e social. Dentro do desejo social e ou emocional está o de particiar ou se diferenciar, a moda é uma forma de linguagem visual que localiza o sujeito em um contexto maior mais facilmente. Mesmo sem conhecer profundamente a história da Moda um sujeito pode “ler” o vestuário do outro e entender a mensagem que lhe é passada, por exemplo, um punk passará a ideia de revolta, um vestido mais luxuoso transmitirá a mensagem de riqueza, ou festa.
Os codigos usados através da Moda cumprem essa função subjetiva e ativa, assim, para atingi-la, um sujeito pode usar uma simples camiseta e calça jeans pret-a-porter para representar a juventude ou gastar milhões um uma bolsa Hermés (Bolsa Birkin custa 4,2 mil euros e precisa ficar em uma lista de espera) para demostrar o poder, a condição financeira e de elegância. Para o primeiro indivíduo de jeans a bolsa não tem mesmo valor emocional, logo, um não poderia reger as escolhas do outro sem maior atrito.
O segundo sujeito do exemplo acima está dentro do consumo de Moda voltada para o Luxo das grandes Casas ou Marcas. Esse e seus iguais representavam uma fatia de 20% do mercado mundial. O Lucro somente em 2008 da LVMH, um conglomerado global com mais de 50 marcas e rendas foi de US$ 25,2 bilhões em 2008, de acordo com site da empresa.
No Brasil o faturamento dos negócios do luxo em 2006 foi de US$ 3,9 bilhões, o que representa cerca de 1% da fatia do mercado mundial e um crescimento de 32% se comparado a 2005 (pesquisa realizada MCF Consultoria & Conhecimento). Outro levantamento realizado pela mesma pesquisa aponta ainda que, quando se fala em luxo, a primeira marca nacional que vem à cabeça de 22% dos consumidores é Daslu (embora só 8% a definam como "desejada"), seguida por H.Stern (14%), Forum, Victor Hugo, Osklen (todas com 4%) e Fasano (3%).
A estratégia das marcas de sucesso está baseada justamente em remeter ao seu consumidor a ideia de status quo impregnado nas grandes marcas de luxo. As necessidades compridas ultrapassam as fisiológicas, no caso de vestir para proteção do clima, e alcançam o vestir para agradar e comprir papeis sociais.
De acordo com a economista de Moda Elyette Roux, em “O luxo eterno”, no caso dos produtos de Moda vinculados ao Luxo ou a grandes marcas a redução do preço de um determinado produto pode fazê-lo perder o valor emocional. O setor da Moda de Luxo seria regulado pelo sistema de Mises em que o valor de venda e compra seria medido por meio da intensidade psicologica, que somente podem ser sentidas e não calculadas, sao interiramente pessoais .

A fixação dos preços no dominio do luxo deveria apoiar-se nos metodos clássicos do preço psicologico para o consumidor, em discussões com especialistas ou em metodos de “análise conjuntura”, que permite identificar, considerando o “valor” ligado à marca, a soma que o consumidor está disposto a pagar para ser beneficiado por esta ou aquela vantagem (ou atributo determiante da escolha) em comparação a outra marca. (ROUX, 2003, p. 96)

O sitema da Moda, como afirma Roux, enquadra-se no campo de estudo da Escola de pensamento Classica, que preve a liberdade na escolha subjetiva do objeto. Conforme Entwistle em “El cuerpo y la moda: Una visión sociológica”, as analises marxistas estão apoiadas em que a Moda surgiu dentro das lutas de classes.

la moda fue uno de los medios adoptados por la nueva clase capitalista para desafiar al poder aristocrático, en primer lugar, burlándose abiertamente de las leyes suntuarias impuestas por la realeza y la aristocracia y, en segundo lugar, adoptando la moda y estando al día en la misma em su intento de conservar su clase y distinción. (ENTWISTLE, 2002, p.55)

No entanto a economia Materialista Histórica não se enquadraria na Moda atual, pois as tendências, que movem constantemente os gostos não seguem o domínio de classes superior. Por exemplo, produção da Alta-Costura (poucas consumidoras de elite tem acesso) inspirando-se nas moda da rua (moda das massas).

Además, la jerarquía de la moda entre las clases se ha invertido, puesto que «los estilos más «avanzados» ya no se encuentran necesariamente en la «cumbre» de la escala social, sino que emergen de la calle, de las subculturas juveniles (Polhemus, 1994). Hay muchas pruebas que dan a entender que la moda de hoy en día emana de una amplia gama de sitios dentro de la cultura juvenil. Las identidades distintivas se siguen marcando mediante la ropa y el estilo, pero su posición desafía a los conceptos tradicionales de posición social vinculada a la clase. (ENTWISTLE, 200, p.153)

A moda esta intrinsecamente ligada com as escolhas individuais de como parecer aos demais e se satisfazer. Esse individualismo defendido pelos teóricos da Escola Austríaca auxilia no estudo da Moda a compreender que as escolhas não são feitas pela alienação ou homem segue apenas instintos behavioristas. Porém, no materialismo histórico o sujeito é passivo, escolhas são feitas por outros para o bem de todos, sendo o sujeito muitas vezes incapaz de avaliar um objeto.



Referências


ENTWISTLE, Joanne. El Cuerpo y la Moda : Una vision sociologica. Paidos. Ibérica. Barcelona, 2002.

HAYEK, Friedrich August Von. Direito, Legislação e Liberdade: uma nova formulação dos princípios de justiça e economia politica. São Paulo. Visão. 1985. (capítulo sete)


HAYEK, Friedrich August von. O caminho da servidão. 5. ed. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1990.

Imagem das Marcas de Luxo. Disponível em: . Acesso em: 05 out. 2010.

Mercado de Luxo no Brasil. Disponível em: . Acesso em: 05 out. 2010.

MISES, Ludwig von. Ação Humana: um tratado de economia. 3.ed. Rio de Janeiro: Instituto Liberal. 1990.

Rendimento financeiro das grandes marcas no Brasil. Disponível em: . Acesso em: 05 out. 2010.

LIPOVETSKY, Gilles .ROUX, Elyette. O luxo eterno - da idade do sagrado ao tempo das marcas. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

SILVA, Moacir José da. Aula interativa de Historia econômica. Disponível em: . Acesso em: 05 out. 2010.

SOTO, Jesus Huerta de. Artigo Liberalismo. Disponível em: . Acesso em: 05 out. 2010.


Lucros da marca de luxo HLVM. Disponivel em: http://www.mercadocompetitivo.com.br/mc/site/index.jsp?cod=001&pag=3725. Acesso em 05 de out. De 2010.

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