"... e assim vai o mundo e o jazz é como um pássaro que migra ou emigra, que imigra ou transmigra, saltador de barreiras, contrabandista, algo que corre, que se difunde, e esta noite, em Viena, está cantando Ella Fitzgerald, enquanto, em Paris, Kenny Clarke inaugura uma cave e, em Perpignan, os dedos de Oscar Peterson brincam, e Satchmo, por todos os lugares, com o dom da ubiquidade que o Senhor lhe deu, em Birmingham, em Varsóvia, em Milão, o pão e o sal, algo de absolutamente indiferente aos ritos nacionais, às tradições invioláveis, ao idioma e ao folclore: uma nuvem sem fronteiras, um espião do ar e da água, uma forma arquetípica, algo de antigamente, de baixo, que reconcilia mexicanos com noruegueses e russos com espanhóis, que os reincorpora ao obscuro fogo central já esquecido, que os devolve mal e precariamente a uma origem atraiçoada, indicando-lhes que talvez houvesse outros caminhos e que aquele que escolheram não era o único e não era o melhor, ou que talvez houvesse o